Nestes últimos dias, uma frase de São João Paulo II tem ressoado profundamente em meu interior como uma melodia contemplativa:
“O Coração de Jesus, a obra-prima do Espírito Santo, que começou a bater no seio da Virgem Maria.” (Angelus, 23 de junho de 2002)
No seio virginal de Maria, O Espírito Santo, Artista divino, cumpre a antiga promessa feita ao povo escolhido por meio do profeta Ezequiel:
“Dar-vos-ei um coração novo.” (Ez 36,26)

Mas para que nascesse esse Coração Novo, era necessário mais do que barro: era necessário um novo sopro do criador. E essa nova obra começou com o SIM de uma mulher e a humildade de um Deus que se faz carne. No instante do “sim” de Maria, o Espírito Santo iniciou sua maior obra: formou no seio da Virgem o Coração humano de Deus.
Como nos ensina a embriologia, é o coração o primeiro órgão a se formar no ventre materno. Antes mesmo de olhos, mãos ou palavras, é o coração que pulsa a vida, o amor. Assim, o primeiro gesto da Encarnação foi o palpitar do Amor eterno no tempo (chronos). E esse pulsar, escondido no ventre de Maria, já é anúncio da cruz: um Coração formado para ser transpassado.
Desde a criação, como podemos ler em Gênesis, o Espírito pairava sobre o caos. No princípio, sobre as águas; em Adão, no sopro que dá vida; nos profetas, como aqueles que falavam em nome de Deus. Mas é na Encarnação que o Espirito Santo começa sua obra definitiva: uma nova criação, iniciada não com trovões e coisas espetaculares, mas no silêncio fecundo do sim de uma mulher.
O mesmo Espírito que formou o Coração de Cristo na carne, o revelou no sofrimento da cruz: Ao ser aberto pela lança, aquele Coração — já esvaziado de sangue — jorrou água. Dessa agua que jorra do lado aberto brota o dom do Espírito. E é nesse dom que inaugura a Igreja:
“Do lado aberto de Cristo adormecido na cruz nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja.”(Catecismo da Igreja Católica, §766)
A Igreja nasce do lado aberto do Cristo e é confirmada em Pentecostes.
Pentecostes é, portanto, um retorno a essa fonte. É deixar-se preencher pelo Espírito que jorra do lado aberto de Jesus, para que o nosso coração — também ele moldado no barro da humanidade — se torne um reflexo do Coração que o Espírito formou.
Assim viveremos o que pedimos na Jaculatória:
“Jesus, manso e humilde de Coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso”
A solenidade de Pentecostes nos transporta ao Cenáculo — não como simples espectadores de uma cena do passado, mas como participantes de uma promessa sempre atual. O Espírito Santo que desceu sobre Maria e os apóstolos continua a ser derramado hoje, animando, inflamando e impulsionando o coração da Igreja a anunciar o Cristo Ressuscitado.
Como discípulos, como artistas-missionários, como Igreja, somos chamados a acolher esse sopro e a deixar que Ele continue sua obra em nós. Que o Pentecostes não seja apenas uma memória litúrgica, mas o inicio de um novo tempo: um sim renovado, um coração disponível para transbordar a beleza e propagar a Obra-Prima do Espirito Santo que é o Coração de Jesus.
Alexandre Santos – Consagrado Recado