No último texto que escrevi, Oração, fruto da intimidade com Deus, disse que fomos criados pelo amor e para o amor. Ora, Deus não nos deixou sozinhos, conforme diz o Texto Sagrado: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja adequada (…) Por isso, o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne.” (Gn 2,18.24).
“E, por inveja do demônio que a morte (não apenas a física, grifo meu) entrou no mundo” (Sb 2,24) e com ela os frutos da carne ditos por São Paulo: “ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes” (Gal 5, 20s).
Há um ódio do diabo pelos casais. Isto é fato. Por definição, diabo significa diabolôs (no latim), o que desune. As consequências que os casais sofrem, graças ao pecado e às tentações das artimanhas diabólicas são bem conhecidas: discussões por coisas bobas, falta de contato físico, poucos momentos alegres e brigas constantes, comunicação deficiente, falta de apoio emocional, falta de interesse e intimidade, falta de comprometimento, desconfiança ou ciúme excessivo — devido aos smartphones, por exemplo — crescimento em direções diferentes. Tudo em consonância com o supracitado São Paulo. Por isso é preciso sempre lembrar que um relacionamento se faz a três: eu, você e Deus. Devemos, todos os dias, confiar o nosso relacionamento ao Pai.
Ora, o casal é a celula mater da família. “Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o bem dos cônjuges e a transmissão da vida. Esses dois significados ou valores do casamento não podem ser separados sem alterar a vida espiritual do casal e sem comprometer os bens matrimoniais e o futuro da família” (Catecismo, §2363).
Veja bem. O amor de Deus pelos casais e, por consequência, pela família é tamanho que o primeiro milagre realizado por Jesus foi exatamente numa celebração de matrimônio (Jo 2,1-11). Por isto a Santa Igreja nos ensina que “Cristo é a fonte desta graça. Como outrora Deus tomou a iniciativa do pacto de amor e fidelidade com seu povo, assim agora o Salvador dos homens, Esposo da Igreja, vem ao encontro dos cônjuges cristãos pelo sacramento do Matrimônio. Permanece com eles, concede-lhes a força de segui-lo levando sua cruz e de levantar-se depois da queda, perdoar-se mutuamente, carregar o fardo uns dos outros, “submeter-se uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5,21)” (Catecismo, §1642)
Diante da realidade tão árdua da vida de um casal, somos chamados a ajudá-los a manterem-se unidos entre si e com Deus. Em primeiro lugar, devemos nos abster da ideia errônea de que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. Não. Um casal em crise é um casal que precisa de ajuda, pois não são capazes, por si sós, de se apaziguarem. O saudoso padre Leo dizia que as pessoas discutem entre si por que seus corações estão afastados um do outro. E quanto mais afastados, mais discutem, mais gritam.
Assim, somos chamados a suportá-los, como nos recomendou São Paulo: “Suportai-vos uns aos outros” (Col 3,13). Ser suporte, apoio. E qual é o melhor apoio do que entregar a Deus os casais? Tamanha é esta necessidade que disse Nosso Senhor em sua oração de despedida: “Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17,15). Assim, pela oração, é Deus quem, por seus caminhos, pela presença na união daqueles que se contrariam em matrimônio é capaz de fazer algo. “Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar” (Fl 2,13). Peçamos também a Nossa Senhora para que, assim como nas Bodas de Caná, interceda para que Jesus transforme as águas das discórdias, tão presentes nas vidas dos casais, em abundantes vinhos de fartura, alegria e presença Divina, pois “o que importa é que cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido” (Efe 5,33)
Welligton de Almeida Alkmin, pelo Hozana.