Os antigos profetas, como Isaías, anunciaram a vinda do Messias Salvador: “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará ‘Deus Conosco’. Ele será nutrido com manteiga e mel até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem” (Isa 7,14s).
Ora, Deus viria ao mundo como um ser humano, numa união hipostática (verdadeiro Deus, verdadeiro Homem). Para tanto, precisaria de um pai e uma mãe. Quanto a mãe, virgem concebida pelo Espírito Santo. Em se tratando do Deus-Homem, não poderia ser qualquer pai, mas um pai-guardião.
Do latim pater, “pai” representa a figura paternal da família, ou o genitor de uma pessoa. Porém, seu conceito é amplo, pois além de ser o pai biológico, pode ser o pai adotivo ou de criação, como diziam os antigos: “pai não é aquele que gera, mas o que cria”. Sua função o descreve. Ama e educa, responde às necessidades mais básicas de sua prole para que ocorra o seu saudável desenvolvimento quanto ao aspecto físico, emocional, psicológico e espiritual.
A palavra guardião tem uma origem interessante. Derivada do latim guardianus, uma romanização de wardjan, significa “sentinela” ou “vigia”. Portanto, representa alguém que vigia com responsabilidade, guarda, cuida, zela, protege e salvaguarda algo ou alguém. Em algumas situações, pode significar “pai” ou até mesmo “dono”.
Como a promessa da vinda do Messias foi dada ao povo de Israel, é dele que vem o pai-guardião, conforme a genealogia descrita por São Mateus: “Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo” (Mt 1,16).
Ouve-se muito expressões como “ele é a cara do pai”, ou “este menino puxou o pai”. Com Jesus não foi diferente. Ao longo de 30 anos viveu com sua Santíssima Mãe e seu pai guardião São José. Embora os relatos bíblicos não tragam isto de forma explícita, vê-se claramente nas palavras de nosso Senhor: “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55). Ou ainda, “Não se coloca tampouco vinho novo em odres (feitos com madeira) velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro se conservam” (Mt 9,17). Esta alusão a carpintaria demonstra claramente que Jesus aprendeu o ofício de São José. Embora Deus, Nosso Senhor precisou a rejeitar o mal e escolher o bem. Como se daria isto se não fosse educado por seus pais? Tudo isto nos mostra o quanto, além de Maria, José esteve presente diretamente na formação humana e até mesmo espiritual de Jesus.
Muito se questiona o fato do silêncio de José ao longo dos Evangelhos. Há duas inferências claras a respeito disto. A primeira é que os Evangelhos são Cristocêntricos, isto é, tem como objetivo anunciar a vinda do Salvador e sua missão, e não a de seus pais. A outra é que um pai-guardião não precisa dizer nada. Seus gestos e atitudes repercutem na vida de seus filhos, e isto foi reconhecido por Nosso Senhor: “Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente?” (Lc 11,11)
Ainda se questiona se Jesus respeitou seus pais. Incrível notar que a primeira menção bíblica da palavra pai nas Sagradas Escrituras aparece no livro de Êxodos: quando Deus entrega os Dez Mandamentos a Moisés no monte Sinai: “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá” (Exo 20,12). Sendo Jesus Deus, não honraria seu pai José?
Tudo isto nos demonstra quem é José. Mais que o José do Egito que guarneceu sua família com bens, alimentos, José de Jesus foi para sua família protetor, guardião e provedor, e hoje cumula a família com o que há de mais precioso: seu Filho adotivo. Afinal, ele não foi apenas guardião e alcançou o cargo mais alto no Egito, mas ao Egito levou o Salvador para protegê-lo daqueles que queriam matá-lo em sua terra natal, e de lá trouxe de volta Aquele que remiu nossos pecados e nos trouxe a salvação.
Assim, coloquemo-nos sob a proteção deste pai-guardião. Busquemos nele as inspirações para guardarmos e preservarmos nossas famílias, muitas vezes através do silêncio contemplativo como o dele, certos de que, tal como ele, sejamos protetores, provedores, certos de que “O pai do justo exultará de júbilo; quem tem filho sábio nele se alegra” (Prov 23,24). Rezemos com São José.
São José, valei-nos
Wellington de Almeida Alkmin, pelo Hozana.