A morte assusta a todos nós. Diante dela, tomamos consciência de nossa fragilidade e, mesmo com fé, podemos ser acometidos por incertezas, dúvidas e mal-estar. Muitas vezes, para fugir desse tema, dizemos que ainda nos falta muito tempo para esse dia, que não nos devemos preocupar com isso e, quando alguém nos lembra de nosso destino comum e inevitável, sempre tentamos dar um jeito de mudar de assunto. E quando se fala do luto então…
Mas o que é o luto? Do latim luctus, significa tristeza, dor ou aflição. E é exatamente isto que sentimos diante da morte. Infelizmente todos nós experimentaremos a dor do luto em algum momento de nossas vidas. Perder um ente querido ou até mesmo despedir-se de um animal de estimação pode ser terrivelmente doloroso, mudando nosso mundo para sempre e nos deixando completamente perdidos.
Fases do luto
Diz-se que o luto tem suas fases. Alguns dizem cinco, outros sete. Afinal, cinco ou sete estágios do luto? O modelo das “Sete Fases do Luto” é baseado nas “Cinco Fases do Luto”, inicialmente teorizados em 1969 pela psicóloga suíça Elizabeth Kübler-Ross. Não é uma regra geral. Pode-se passar por algumas fases ou emoções que distinguem de pessoa para pessoa. Afinal, o luto não é linear e muitas vezes é confuso. É comum o sobe e desce emocional, especialmente em aniversários ou outras datas significativas. Embora empurrar o desespero para o fundo da mente e ignorá-lo possa parecer que está ajudando, isso muitas vezes prolonga a dor. Não é fácil. Na verdade, pode ser uma das experiências mais desafiadoras da sua vida.
Como cristãos devemos encarar estas fases como Deus nos convida. Na verdade, o que precisamos fazer é entender o verdadeiro sentido da morte. Para isso, seguem algumas dicas que nos darão uma visão cristã desse acontecimento e uma ajuda para viver o luto em paz e com sabedoria.
Convido você a também participar do retiro: o caminho do luto, 4 dias de orações e reflexões (clique aqui para participar). Durante este retiro nós refletiremos sobre as diversas fases do luto e buscaremos formas concretas de bem viver cada uma delas.
1° negação
É considerado o choque inicial, a reação de defesa. A morte representa a finitude do que é mais importante para todos nós: a vida. Este estágio pode ocorrer até mesmo antes de uma notícia de perda efetiva, ao saber de um ente querido com uma doença terminal, por exemplo. É um estado temporário e relativamente curto, pois mesmo em negação nos adaptamos àquela realidade para chegarmos ao próximo estágio.
Quando Jesus soube da morte de seu primo João Batista, “partiu dali numa barca para se retirar a um lugar deserto” (Mt 14,13a). Ora, sendo Ele verdadeiro Deus, verdadeiro homem, seu lado humano naquele momento prevaleceu. Sentiu a morte de quem tanto amava e por isto se isolou. Provavelmente foi chorar a perda de quem tanto estimava. Mas não parou na morte, não a negou. Mas o contrário. O mesmo versículo segue nos dizendo como agiu: “mas o povo soube e a multidão das cidades o seguiu a pé. Quando desembarcou, vendo Jesus essa numerosa multidão, moveu-se de compaixão para ela e curou seus doentes” (Mt 14,13b -14) É possível inferir que o tempo de isolamento tenha ocorrido apenas enquanto navegava. E navegar nas Sagradas Escrituras traz também o sentido de tomar decisões importantes na caminhada espiritual, como coração e determinação. As escolhas feitas nesse momento moldam a jornada espiritual. Assim, no seu momento humano provavelmente viveu isto e, ciente de sua missão entre nós, voltou a ela curando doentes. Eis aí o nosso norte. Não negar, mas chorar e seguir a vida.
2° Raiva
Quando já não é mais possível negar o fato da perda, inicia-se um estado de mágoa intensa, revolta, inconformismo e ressentimento. É possível que a pessoa sinta inveja de quem está sadio ou nutra um sentimento de injustiça. A raiva pode se tornar patológica quando chega a um nível crônico.
É São Paulo quem nos ensina como agir diante da raiva: “Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao demônio” (Ef 4, 26s) O cristão precisa sempre entender que a morte, embora traga em si o sentimento de perda, de fato não é. Como o Santo Magistério nos ensina, há uma Igreja militante (neste mundo), outra padecente (no purgatório) e ainda outra triunfante (na Glória de Deus). Assim, faz-se necessário tomar ciência que a vida não termina aqui, mas continua em uma vida eterna prometida por Nosso Senhor.
3° Barganha
O estágio da barganha se caracteriza pela negociação, seja com a própria dor ou com uma força maior. Geralmente, a pessoa enlutada pensa em fazer promessas a Deus. É como se uma esperança profunda o envolvesse e, de alguma maneira, aquela dor pudesse ser revertida.
Jesus nos alerta: “Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes fazer um cabelo tornar-se branco ou negro” (Mt 5,36). A vida tem seu fluxo e a morte faz parte dele. Assim, esperar que o ente volte por meio de promessas é, na verdade, um grande atestado de tolice. Ao cristão compete sempre lembrar que seu caminho é de cruz. Não há outra via no prosseguimento de Jesus: “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lc 9,23). Portanto, barganhar com Deus algo impossível é agir não segundo a vontade Dele, mas a nossa. Não nos esqueçamos da oração que Ele mesmo nos ensinou: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6,10)
4° Depressão
Nesta fase a pessoa já acumula sentimentos profundos de tristeza acompanhados de solidão e saudade. Estas emoções a debilitam em aspecto físico e emocional.
Ora, “a tristeza matou a muitos, e não há nela utilidade alguma” (Eclo 33,25). O consolo para a tristeza nos vem do sermão da montanha: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!” (Mt 5,4). O antídoto para isto nos dá São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!” (Fl 4,4). São Tiago ainda completa: “Está triste? Reze! Está alegre? Cante” (Tg 5,13)
5° Aceitação
De acordo com os estudos, o último estágio do luto não é quando não existe mais saudade ou dor, mas, sim, quando o sentimento se assossega e as respostas emocionais passam a ter mais paz e condições de seguir com a organização da vida.
Quanto tempo dura as fases do luto?
Não há um tempo definido. Para algumas pessoas o processo pode levar semanas. Para outras, anos. Superar não é o mesmo que esquecer, ao mesmo tempo que atravessar o luto pode depender de todas estas fases vividas e de muito apoio – seja ele um carinho ou o acompanhamento profissional. Lidar com o luto nunca é fácil. Com o passar do tempo, pode-se perceber que ocasionalmente volta-se a passar por alguma das fases do luto, especialmente perto de feriados ou aniversários. No entanto, com o tempo as coisas se tornam mais fáceis e a dor diminui. Ela nunca vai embora completamente, mas aprende-se a conviver com a perda.
O santo Padre, Papa Francisco, nos dá um conselho sobre como enfrentar essa situação de luto: “com fé e um maior trabalho de amor. Na fé, podemos nos consolar um com o outro sabendo que o Senhor venceu a morte de uma vez por todas. Nossos entes queridos não desapareceram na escuridão do nada. A esperança nos assegura que eles estão nas mãos boas e fortes de Deus”.
O luto é então um processo e não um estado. Processo que costuma se apresentar num padrão de fases ou estágios que se sucedem até alcançarmos a aceitação. Vamos refletir sobre isso? Clique e participe do retiro: O caminho do luto, 4 dias de orações e reflexões.
Wellington de Almeida Alkmin, pelo Hozana