Fazendo a Lectio Divina com a passagem de João 5, 1-8, pude contemplar o mover de Deus em nós, por nós e para nós. E é partindo da leitura orante da Palavra de Deus que escrevo aos ministros de dança.
Na passagem de João, o Senhor nos mostra a figura do paralítico, um homem que há 38 anos era acometido de uma enfermidade e estava à espera de alguém que viesse colocá-lo no tanque Betesda (que significa poço da misericórdia) para que, quando o anjo do Senhor descesse, ele seria assim curado.
Na passagem está escrito: “… Nesses pórticos jazia um grande número de enfermos, de cegos, de coxos e de paralíticos, que esperavam o movimento da água. Pois, de tempos em tempos um anjo do Senhor descia ao tanque e a água se punha em movimento. E o primeiro que entrasse no tanque, depois da agitação da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse.”(Jo 5, 3-4). Chamo a atenção para o movimento das águas. O movimento expressa a manifestação do Divino, o anúncio da presença de Deus, pois era através do movimento da água que todos os enfermos sabiam que o anjo havia descido. E era após o movimento, da agitação da água que aquele que entrasse primeiro no tanque ficaria curado de qualquer doença.
Voltando o olhar para nós, como ministros de dança, somos chamados a levar as pessoas a uma profunda e verdadeira experiência do amor de Deus através dos nossos movimentos, do nosso dançar, do nosso corpo que é Templo do Espírito Santo.
Dança é movimento, é mover-se. Mas, para nós, esse conceito de dança enquanto movimento vai muito além da nossa capacidade técnica e corporal de nos mover. Para nós, dançar é, em primeiro lugar, o mover do Espírito Santo de Deus em nós. É, antes de tudo, uma experiência de intimidade com o Amor Trinitário.
Quando dançamos para o Senhor, seja em ações evangelizadoras como shows, seja em oração, adoração, o mover de nossos corpos, a coreografia ou performance deve resplandecer o amor de Deus. Ouso ainda dizer que, o nosso dançar deve ser a manifestação do Sagrado, do amor de Deus em nós.
Buscando em outras passagens bíblicas como a cura do paralítico (Mateus 9, 1-8), a cura do cego de nascença (João 9, 1-6) e a cura da mulher do fluxo de sangue (Mateus 9, 19-22), em que Jesus realiza milagres e curas, podemos perceber que há sempre uma palavra de ordem do Verbo Encarnado que expressa movimento. O sentido desse movimento configura-se como o sair do lugar em que se está, sair da conformidade, do comodismo, sair do lugar de vítima, o sair de si mesmo para se colocar a caminho, tomar o próprio leito e andar, ir ao encontro.
O movimento é a ação da alma que sai de si para ir ao encontro. E, mais que isso, é o próprio Verbo encarnado, o Filho de Deus, que em sua infinita misericórdia vem por primeiro ao nosso encontro. Portanto, é no mover-se, no movimento que a graça de Deus acontece, que as curas e milagres são vividos. É o movimento do amor de Deus Trino a se derramar sobre a humanidade.
Diante disso, podemos compreender a dimensão da missão que o Senhor nos confia enquanto ministros de dança.
Ao dançar, ou melhor, ao ministrar a dança, Deus nos confia à missão de sermos instrumentos de cura, de conversão, de milagres, da manifestação da Glória de Deus aos homens. O Senhor nos faz portadores do amor trinitário, anunciadores da Boa Nova do Evangelho vivido e testemunhado em nosso dançar.
Convido, assim, cada ministro de dança que façamos juntos essa vivência de amor. Que o nosso mover, o nosso dançar, seja primeiramente em nós a experiência de romper com o comodismo, com a murmuração, seja o sair do nosso lugar de conforto, nos desinstalar, sair de nós mesmos para ir ao encontro do Senhor e, assim, nos tornarmos verdadeiramente instrumentos de cura, de conversão e levarmos nossos irmãos a uma experiência de encontro e intimidade com o amor de Deus.
Por: Laianne Viana – Membro da Comunidade Recado